terça-feira, 29 de junho de 2010

ADEUS A UM AMIGO

"Ouvi dizer que só era triste quem queria...
A vida é feita de atitudes nem sempre decentes
Não lhe julgam pela razão, mas pelos seus antecedentes
É quando eu volto a me lembrar do que eu pensava nem ter feito
Vem, me traz aquela paz,
Você procura a perfeição e eu tenho andado sob efeito,mas
Posso te dizer que eu já não aguento mais
Desencana, não vou mudar por sua causa, não tem jeito,mas
Quem é que decide o que é melhor pra minha vida agora?
Lidei com coisas que eu jamais entenderei
Ah! Se eu pudesse estar em paz
Me livrar do pesadelo de vê-lo nesse estado,
E não poder ajudá-lo, não
Mas triste é não poder mudar, porque está tão revoltado irmão?
(...)Ouvi dizer que só era triste quem queria...
(...)Cuidado com seus passos!..."

Há duas semanas...
Há 29 anos...
A gritaria da molecada na rua, o ensaio do sol em sair... (lembranças vagas) a bola corria por entre os “meio fios” da rua. A garra, o suor, os sorrisos... (lembranças boas).
Agora, lá estava ele... pálido e inerte entre os sons abafados de choros doloridos. (sussurros e balbuciares).
Um amigo...
Anderson era o mais velho.
As vezes judiava do Saulo e de mim (mirrados)
Também era o mentor (fazia com que achássemos que ir até o outro lado da cidade era a maior aventura do mundo) e era!
Haviam também o Marcos e o “tigela” (que não estavam lá)
Há 29 anos, nascia uma esperança, um garoto, um sorriso.
Apagado há duas semanas...
Apagando há um bom tempo.
(os choros soluços...)
Saulo segurou em uma das alças do caixão...
Fora embora nosso amigo, nosso mentor, nosso irmão.

em memória de Anderson Cristian Rocha *23/07/1980 †14/06/2010

domingo, 9 de maio de 2010

uma história

Impiedosos são os pensamentos durante a interminável solidão. A inquietude do silêncio. A brancura do nada. Os detalhes escondidos no cotidiano. O tic-tac... os vincos das rachaduras, as manchas na pintura velha da fria sala mal iluminada. Quanta lasciva, quanto pecado em querer... em sentir. Todo despudor de desejar.


Ela parecia decorar cada defeito da sala gelada. Os cantos encardidos, azulejos mal lavados, pintura descascada por uma infiltração esquecida. Enquanto esperava, mordia as bochechas e os lábios, apertava-os contra os dentes e tirava o esmalte com as unhas dos polegares. Apesar de tudo, seus gestos eram impressionantemente despreocupados.


Fora da sala ouvem-se passos apressados e discursos confusos, muitos cochichos abafados. Um apinhar de curiosos e jornalistas disputam o melhor espaço em frente ao prédio da polícia. O som dos flash’s parece um cavalgar de gafanhotos.


A notícia se espalhara como uma grande nuvem negra. Algo que seria quase inacreditável... inaceitável. Vozes sussurradas a condenavam enquanto a noite avançava gelada pelos corredores. Tudo lhe parecia estranho, menos o gosto de sangue em sua língua... (continua)



todos tem segredos

todos têm fantasias...